Todo poeta é um impostor. Se digita, mente.

Todo poeta é um impostor. Se digita, mente. Se escreve, mente. Não há nada de puro na natureza dos poetas. Falam do que não sabem sentir com palavras que sequer descrevem de forma exata esse sentimento imperfeito. Os poetas são inúteis. Não se bastam a si; quando ficam doentes, antes de escreverem sobre o que não sabem que têm, correm para o médico. Os poetas não sabem nem viver nem morrer, misturam sentimento com imaginação, são extremistas da boca para fora e sorriem para pessoas de que não gostam (como todo mundo), ficam com preguiça de fazer almoço (como todo mundo), e vez ou outra usam a mesma meia duas vezes (como todo mundo). Os poetas são menos honestos que a gente, pois insinuam que existe um nível mais profundo do existir. Não existe, não. É tudo esse túnel circular em que nos prendemos, por onde vamos a velocidades variadas nos extrepando contra as paredes e nos chocando uns contra os outros, gozando da circunstância de estar ali e viver encontros, ainda que dolorosos, ainda que dilacerantes, tudo ao mesmo tempo.

2 Respostas to “Todo poeta é um impostor. Se digita, mente.”

  1. Que bom que voltou a postar! Adorei o texto, apesar de achar que “existe um nível mais profundo de existir”. Te liguei hoje, um beijo!

  2. Passo por aqui religiosamente, quando saiu por aí a ver os blogs queridos, esperançosa. Fiquei contente de ver você preenchendo os espaços novamente

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